Hoje em dia tudo é disruptivo e por toda a parte se proclamam as maravilhas da disrupção: palestras, eventos, artigos, vídeos, livros. Chegou até no boteco.
As palavras entram no uso diário e tendemos a esquecer o que significam. Um caso flagrante no Brasil, atualmente, é o assertivo.
Tudo é assertivo: os dados são assertivos, as campanhas são assertivas, as segmentações idem.
Só que assertiva é uma afirmação categórica, enunciada com a ênfase de quem a julga verdadeira – não tem nada a ver com acerto.
Não existem dados assertivos: existem dados, que podem ser pertinentes ou não, assim como a leitura que deles se faz pode ser acertada ou não.
É sério: morre um golfinho toda vez que alguém diz dados assertivos.
Mas voltemos à disrupção.
Esse termo, que nos chegou por via latina, significa romper, fraturar.
Em suma, é a quebra do curso normal de um processo.
Convenhamos: se disrupção é a quebra do curso normal de um processo, passar de democracia a ditadura também é disrupção.
Passar de saneamento básico para o lançamento de esgoto diretamente no mar é igualmente disruptivo.
Até eu, com minha locomoção pífia, sou disruptivo ao dançar.
Nos dias de hoje, encontramos um guru em cada esquina anunciando os milagres da disrupção. Só que o futuro é feito passo a passo, numa sinergia entre pessoas, processos e tecnologia.
Falamos em disrupções porque não estamos conseguindo fazer conexões.
O que faz a diferença são as conexões
E se dermos um passo atrás para pensar nos propósitos? É possível que uma forma de sentir sentido na vida e no mundo – um autêntico real absoluto – seja conseguindo conectar-se com um propósito, com as pessoas, com uma noção de comunidade.
A desconexão – o estar à margem – vai permeando de fraturas e lacunas a vida de todos.
Veja-se, por exemplo, o urbanismo dos subúrbios mais ou menos abastados dos Estados Unidos, de onde se excluíram as praças e os locais de encontro e de tropeço de uns com os outros.
Cidades antigas eram peritas em UX. Esses subúrbios norte-americanos em linha reta, cujo planejamento urbano foi feito somente para automóveis, acabam com o dinamismo das cidades e priorizam o individualismo sobre a vida em comunidade.
As disfuncionalidades sociais e os prejuízos mentais produzidos por tal design são sérios, comprovados pelos vários levantamentos estatísticos realizados ao longo das últimas décadas.
É urgente que reaprendamos a valorizar as conexões: pense numa espécie de link building aplicado à vida em sociedade.
Então o futuro não é disruptivo?
Eu sei lá…
O futuro é passo a passo, de amanhã em amanhã.
O futuro é a continuidade do que você está fazendo com você e com o seu negócio agora.
As coisas estão conectadas e o que vai acontecer com você amanhã – e com a sua empresa – depende do que você fizer hoje.
Não se engane: o futuro há de vir porque há devir.
Mas não pense em um futuro automático: o futuro é manual, diário, feito de decisões e ações.
O seu futuro, assim como o futuro da sua empresa, não é algo mágico que vai cair no seu colo.
Será que é mesmo de disrupção que a sua vida precisa? E a sua empresa?
Responda você. Eu sei lá…
Estamos em transformação permanente, contínua e sem um fim delimitado. A estabilidade acabou: agora tudo é transição.
Contudo, é menos sobre estratégias digitais e mais sobre como criar conexões. Omnichannel é conexão. Customer happiness – pensar na experiência do consumidor de ponta a ponta – é conexão.
Retirar sentido de linguagens e áreas distintas é conexão. Transitar entre silos é conexão.
A Kodak ajoelhou e parece que nós vamos todos rezar também.